por: Cesar Lonn Pinto
Sob azul profundo do céu na Cordilheira dos Andes, eu tiritava sob um vento seco, frio, que teimava em atravessar as quatro camadas de roupas térmicas. A recepção glacial deixou bem claro o que o guia Boliviano havia dito na noite anterior: “Não existe montanha com mais de seis mil metros fácil”. Minha primeira experiência em alta montanha foi no Huayna Potosi (6.088m). Durante muitos anos percorri montanhas brasileiras, sempre no inverno, para evitar as chuvas e poder escalar com segurança. Em nos anteriores, na Patagônia Chilena, eu havia resistido bem a temperaturas de 20 graus negativos, então acreditava que os Andes Bolivianos não seriam um obstáculo intransponível. A topografia moderada de mossas terras não me prepararam para o desafio rude da aclimação em altitude e do frio extremo. Durante seis meses trabalhei o condicionamento físico com corridas de 22km nos finais de semana e academia, mas, o treinamento em montanha se limitou ao Pico do Agudo (PR) e ao Itatiaia (RJ), já na véspera da ida para a Bolívia.
A Chegada a La Paz já mostra o desafio da altitude. Esta cidade que mescla arquitetura colonial espanhola e monumentos arqueológicos pré-colombianos fervilha de aventureiros. São trekkers, mountain bikers, montanhistas, escaladores e toda uma fauna colorida de turistas vestidos de North Face. Muitos idiomas e apenas uma busca: Montanhas. Foi no hostel em La Paz que conheci o grupo de alpinistas franceses que dividiriam comigo a escalada. Na estrada empoeirada até o parque Huayna Potosi pude ver a riqueza e a pobreza do orgulhoso povo boliviano. Um desconfortável contraste, não muito diferente de nossas cidades brasileiras.
O primeiro dia de ascensão até a base foi tranquila, mesmo carregado com a mochila, assim como os treinos nas geleiras. Para um brasileiro o uso do Piolet (espécie de machado para o gelo) e do Crampom (pontas de metal fixadas nas botas) é algo tão “raro” como esquiar, mas ainda assim uma aprendizagem.
No segundo dia de escalada fomos até 5.425m, para nos prepararmos par o ataque ao cume na noite seguinte. Foi quando a dificuldade de aclimação mostrou seu poder debilitante. Com fortes dores de cabeça eu não conseguia me hidratar direito – algo muito perigoso na montanha – e decidi retornar, acompanhando um casal de irmãos franceses. Retornamos para o acampamento base e ficamos no aguardo do alpinista mais forte do grupo, que subira encordado a outros dois guias bolivianos. O tempo firme, além da boa preparação do grupo foi determinante, e na manhã seguinte, exaustos, retornaram com a boa noticia do cume.
Meu primeiro contato com a alta montanha me mostrou a importância de conhecer melhor sua dinâmica e respeitar o período de aclimatação. Assim como a certeza que preciso voltar aos Andes para acertar as contas com a velha senhora.
Huayana Potosi
@CESAR_LONN é montanhista, com mais de 30 anos de vivencia em atividades outdoor. Experiência de montanha no Brasil, Chile, Argentina e Bolívia.